Eu andava perdido por aí, vagando pelas ruas. Não literalmente, mas metafisicamente. Por onde estava, estava só de corpo presente. Minha cabeça não me acompanhava e, por muitas vezes estive ausente a mim mesmo. Não estava presente em mim. Eu não me continha. Não usava a minha essência lá com muita freqüência. Mas eu vivia. Vivia...Que verbo imprórpio de se usar! Eu existia. Viver acontece pouco. A grande maioria das pessoas existe. Eu simplesmente existia. Não é que era infeliz, compreende? Eu só não tinha aquela paixão que era necessária para qualquer pessoa. Arrepio, frio na barriga, brilho nos olhos, sorriso espontâneo e lágrima de felicidade não estavam presentes no meu cotidiano ou vocabulário. E, já que nunca existiram, não faziam falta.
Mas então. Então eu, que era um moço parrudo, barbudo e sério dei de cara com você, essa menina que era tudo o que eu não sabia que existia. Um cotoquinho loirinho e sorridente, que fazia de qualquer criança na maternidade motivo de sorriso de horas e horas, me mostrou tanta coisa ao mesmo tempo que eu nem queria ver. Eu não podia, na verdade. Ora, veja bem, não é todo dia que você tem contato com tanta emoção diferente. Eu não estava organizado pra colocar tudo o que você é no meu dicionário. E nem sei se cabe. Mas ainda assim, olhava pra você como quem vê uma flor silvestre, sabe? Um rapaz da cidade que viaja pro campo meio sem querer e encontra uma flor silvestre? Entendeu o impacto que você causou em mim? Pois foi esse mesmo. Você é a flor que desabrocha no seu próprio tempo e ver você era ver que indivíduo maislindo você ia se tornar.
Eu não conseguia te descrever pra ninguém. Ninguém ia entender tudo o que eu via em você. Depois, ninguém ia entender tudo o que você de fato era, e, por fim, ninguém ia concluir porque aquilo tudo significava tanto pra mim. Qual era a minha surpresa em encontrar um ser humano feliz. Eu não o era? Não. Eu só não sabia que não era feliz. Minha visão de felicidade ficou em escalas de cinza perto do seu arco-íris e seu sorriso permanente. Ah, que coisa difícil de não ver! Você, uma pessoa tão assistível, analisável e alisável, anotável e notável. Mas eu ainda insistia em fazer de conta que você me incomodava, me machucava e me irritava. Mas você me encantou desde o princípio. Você era meu projeto de felicidade mais bonito.
Depois, além de ser, você passou a representar. Você não mais 'era' alguém que me deixava totalmente desconcertado. Você representava tudo o que eu queria pra mim mesmo quando ainda não sabia que queria alguma coisa. Encontrar você foi a sensação de achar antes mesmo de sair pra procurar. Você tem esse quê prévio e adiantado, que chega, bagunça, mistura e, no fim, só faz o que deveria fazer. O que tinha mudado, no entanto, é que eu não queria mais fugir de você. Minha vontade era chegar cada vez mais perto e tocar cada gotinha de insegurança que você carregava bem escondidinha dentro de você. Era me aproximar e tocar toda a tua alegria e inconstância e colocar um ponto final em todas as suas dúvidas. Você era um objeto a ser estudado pra mim. E eu poderia passar muito tempo estudando você. Pretendo. Mesmo quando esgotar minhas monografias sentimentais sobre você, se é que um dia eu o farei, você sempre será o ser mais próximo de mim que já existiu. Nunca existiu nem nunca existirá ninguém que tome o seu lugar ou que ao menos se aproxime de ser um pouco do que você é. Sua forma, lá no céu, pequena, foi jogada fora. Só existe você. Só você. E por isso não me contento com semelhancças, pois alegres, confusos, atrapalhados e tímidos existem e passarão. Mas você...você é a única e para todo o sempre.
O que acontece, por fim, é que você me deu a sensação de frio na barriga, toda vez que te via. De abrir um sorriso espontâneo só pra acompanhar seu instinto de liderança. De saber que os olhos estão brilhando e experimentar uma satisfação quase insuportável por isso. E foi no dia em que finalmente te beijei pela primeira vez, que deitei a cabeça no travesseiro e derramei uma lágrima de tanta alegria sozinho, na minha introspecção.

Você representa, você é, você significa, você torna, você muda, você faz, você toca, você sorri, você acrescenta, você toma, você dá, você tira...Você era exatamente a peça que me faltava.

Antes de você, eu existia. Agora, eu vivo.
Muito Obrigado.