...Movimento Estudantil da Unicamp...

Não se pode dizer que foi falta de esforço.
Eu tentei. Juro que eu tentei de verdade não envolver assuntos políticos no meu blog. Tentei filosofar ao máximo pra conseguir me conter a respeito das manifestações que vejo na faculdade. Não queria me envolver até porque sei que há coisas que não devem ser ditas. Mas visto que a coisa foge do controle, vou seguir o fluxo e deixar todas as coisas que já estão em ebulição há um certo tempo na minha cabeça fugirem do controle e se digitarem quase que sozinhas aqui neste post.
Para não me alongar muito, vou discutir o que eu creio que seja a questão central disso e não as questões centrais dos decretos e aumentos salariais. Vou discutir o método e não o objetivo.
O movimento estudantil da Unicamp é brilhante para apontar os decretos - que, de fato atingem a autonomia da Universidade. Ninguém é burro e todo mundo sabe disso. - e é melhor ainda em canalizar dinheiro, inteligência e energias em manifestações que simplesmente não são divulgadas da forma esperada. Por mais que seja dito que a mídia distorce e por mais que esse seja um clichê tão grande quanto fazer uma greve ou tomar espaços públicos e causar o caos, não dá pra negar que para que algum movimento seja bem sucedido, deve haver boa divulgação. E a divulgação do movimento é a pior possível. Em qualquer lugar além dos muros dos próprios institutos que encabeçam a organização dos movimentos, este é visto como forma de balbúrdia, caos e desordem pública. E quem é que pode realmente provar o contrário? A partir do momento em que estudantes prejudicam e atrapalham as aulas de outros estudantes que estão CONTRA o que aqueles propõem; vemos que uma minoria atrapalha uma maioria, por conseguinte são infringidos os direitos da própria democracia, defendida com tanta veemência. É fácil defender a democracia na liberdade de expressão e protesto, mas é muito mais difícil respeitar a grande porcentagem da universidade que é contra a greve.
Será que as pessoas não percebem que determinadas formas de protesto já estão batidas e perderam a força? Greve hoje em dia, em um mundo cada vez mais competitivo e globalizado, é algo visto e divulgado como abordagem de pessoas ociosas. E, pra mim, beira a falta de criatividade. As melhores mentes da América Latina conseguiram pensar, somente, em uma greve. O mundo, realmente, caminha para o Apocalipse. ( ¬¬')
Além de ser uma bandeira que, de tão usada, já está esfarrapada, a greve é uma imposição. Muitas pessoas, inclusive eu, somos contra a greve e não estamos tendo aula, logo vemos que, realmente, é uma minoria que prevalece. Sou a favor das manifestações, conscientização da comunidade, e abaixo-assinados. Simplesmente pelo fato de que, destes citados, participa quem quer, quem tem disponibilidade e vontade. Quem não quer, pode continuar a ter aula. Mais democrático, impossível. Pouco eficaz, alguns diriam. Mas quais foram os resultados obtidos com a greve? Nada que tenha sido realmente exposto ou satisfatório. A abordagem não foi convincente, pelo menos não da forma que era esperada. Se a causa é justa e a negociação não prossegue é porque a comunicação e o método não estão funcionando.
Outro ponto importante, que não pode deixar de ser mencionado, refere-se às imagens que foram criadas diante das atitudes dos alunos. Os que não aderiram à greve são vistos como "reacionários", "alienados", "desinformados", "tucanos", "conservadores de extrema-direita", "elitistas" entre outras denominações que não só ofendem como são injustas e infundadas. A visão de cada um cabe a cada um. E ainda que muitas pessoas tenham se posicionado contra, não é motivo para que sejam vistas como alienadas ou reacionárias. Mesmo porque, já diria Nelson Rodrigues: "Hoje em dia, o indivíduo prefere que lhe xinguem a mãe a que lhe chamem de reacionário". Há tantas pessoas que não apoiam de fato a greve, e que participam das atividades por falta de convicção quanto ao prórpio ponto de vista...

Comentem e posicionem-se, independendemente de seu ponto de vista.
Vejam este espaço não como um fórum ou assembléia virtual, mas como um veículo de exposição de idéias.
Uma pílula. E um abraço.
Cecília Garcia Alves - Lingüística 2007

9 recados:

Unknown disse...

Concordo com cada uma de suas palavras, Cecília! É notório o fato de que os benefícios que poderiam ser alcançados por meio desta greve (que, na verdade, eram bastante questionáveis desde seu início) já se esgotaram, de forma que, mais do que nunca, sua perpetuação torna-se insustentável. Adicione-se a este lamentável cenário a hipocrisia e barbárie com as quais alguns membros do movimento têm agido. Defendem a liberdade de expressão e a democracia, desde que estejamos de acordo com suas convicções e decisões. De forma contrária, somos taxados como “alienados”, ”neoliberais” e “reacionários”, quando não usam termos de baixo calão. Impedem os estudantes que não aderiram ao movimento de assistir às aulas, fechando portas de salas, fazendo baderna fora destas para atrapalhar os professores e tomando muitas outras atitudes que são, pelo menos, antiéticas, quando não criminosas. Ignoram a opinião da maioria dos estudantes da universidade durante suas assembléias, manipulando resultados para que a greve possa prosseguir. Pessoalmente, eu me posiciono como um defensor das idéias de centro esquerda. Dessa forma, apóio as causas do movimento, mas condeno a greve como meio de lutar por elas. É lamentável o que tem ocorrido na Unicamp e espero, sinceramente, que esta situação seja resolvida o mais breve possível.

Um grande abraço, Cecília!!

Wilson Afonso da Silva Júnior – Engenharia Elétrica 06

My mind disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
My mind disse...

Não acredito que o governo recuaria se não fosse o esforço dos estudantes e a união de todas as universidades paulistas nesta mobilização.
Acredito que muitas das pessoas que pensam da forma descrita nesse texto pouco fizeram para que a situação fosse mudada.
Quanto a divulgação. Acho que os estudantes não obtiveram apoio da imprensa, e esta (principalmente da midia visual) sempre esteve favoravel ao governo(provavelmente por interesses). Acredito que o rumo seria outro caso a Mídia apoiasse o pensamento dos estudantes.
Enfim, saldo os grevistas pela mobilização, coragem e pensamentos em pró da universidade. Mas lamento pelas invasões desordenadas (como a da DAC) a falta de apoio, e má divulgação externa.

Eduardo Yada Matias - Engenharia Elétrica Unicamp 06

Anônimo disse...

Olá Cecília. Cheguei ao blog por indicação e realmente lhe parabenizo pelo excelente texto. Concordo com tudo que você disse. Sem nenhuma restrição. É triste que um movimento que, teoricamente, luta pela democracia e por causas nobres venha a tomar atitudes tão inconseqüentes e estúpidas. A última assembléia mesmo... Demoraram tanto a iniciar a votação que quando começaram só tinha no local o pessoal que estava morando na dac (porque enfim...) e seus companheiro. Todo o pessoal que era contra desistiu de ver aonde o rumo daquela coisa mal organizada ia levar.
E achei muito interessante isso aqui:
"Há tantas pessoas que não apoiam de fato a greve, e que participam das atividades por falta de convicção quanto ao prórpio ponto de vista..."
Realmente, tem muita gente que adere aos movimentos simplesmente pra não ser tachado como alienado. Sendo que todos têm o direito de ser contra a ocupação.

Ricardo Righetto disse...

Cecília, achei muito pertinente a sua abordagem da situação na Unicamp, principalmente na questão da greve como uma imposição aos que NÂO CONCORDAM com ela. Eu até sou favorável a ela, mas vejo muitas falhas na forma como ela tem sido conduzida. A divulgação dos acontecimentos, das ações e dos OBJETIVOS é muito fraca por parte do movimento: as coisas acontecem, pessoas tomam atitudes e decisões, em conjunto ou não, mas ninguém fica sabendo direito. Só não concordo com você quando se refere aos pró-ocupação/greve como uma minoria, visto que há, sim, muitos apoiadores desses atos dentro da universidade. Nas 2 maiores assembléias, com quoruns respeitáveis, o que vimos era algo aproximadamente 50/50. Daí, deixo a seguinte questão: mesmo que eles sejam a maioria simples, será que essas ações são justificáveis diante de um quadro tão delicado? Se fosse apenas uma meia-dúzia reclamando da DAC ocupada, da greve e tudo o mais, eu seria totalmente partidário do "respeitar a vontade do coletivo", mas acho que esse mote tem sido pretexto para muitos abusos.

É como eu digo, a democracia é um regime de decisão ou sistema de governo em que, por definição, uma maioria oprime uma minoria, ainda que essa minoria seja quase igual à maioria.

Ricardo Righetto
EE06 Noturno
(sim, seu blog foi divulgado na nossa lista =) )

Lais de Queiroz disse...

Prefiro não me posicionar e acho que o motivo dessa escolha não é um mistério, né Ceci...?!
Lê meu blog... só pra saber meu lado sentimental da coisa, tá?!
Eu ando meio sentimental... auroux!!!
bjo linda


Lais Silvani - Lingüística 07 (entrei na brincadeira tbm)

Natália disse...

Cecília!!!

Concordo com TUDO que você disse. Ainda tenho algumas dúvidas quanto aos decretos do nosso famoso-popstar governador José Serra, não sou tão radical ao dizer que a nossa autonomia está sendo agredida. Mas eu também já estou tão esgotada e já fui tão agredida de vááárias maneiras por pessoas que não respeitam opiniões contrárias que eu só consigo dizer que ESTOU DE SACO CHEIO dessa brincadeira de Revolução Russa, que já perdeu a graça há muito tempo.
O que eu acho é que TODAS as pessoas que não têm a capacidade de respeitar o contrário, deviam ser proibidas de tomar qualquer posição, pq isso só mostra o quão imaturas elas são pra ter alguma opinião e "conviver" com ela. Evitaria tantas coisas desnecessárias que aconteceram nesse período. Pra mim ficaram mágoas eternas e pros grevistas? será que ficou algo melhor? Tomara né...

Natália disse...

Pra terminar, meu respeito ao seu post Cecília. Muito bom seu texto e sua sensatez.

Parabéns por não ter se "escondido" nesse momento. Mesmo que a nossa opinião tenha causado tantos "transtornos".

Até a volta..
Natália Bonin.

Anônimo disse...

Oi Cecília...Cheguei aqui por acaso e fico muito feliz de saber que você escreve para o "público" e que stá escrevendo coisas tão sensatas e bem articuladas...Fico muito feliz por tudo isso.
Um beijo.

Roberta- agora a colega de profissão.